Contra a nova voz da Fertagus que anuncia a chegada dos comboios

Exmos Senhores da Fertagus


É com extremo desagrado e repulsa que venho por este meio mostrar a minha contumaz indignação!
Asseguro a Vossas Excelências que já sou vossa sócia/membro ou - recorrendo agora à designação que possuo do vosso ponto de vista - "passageira" desde 2000 e picos. E como tal, sinto-me no conjunto de leis e disposições legais que regulam obrigatoriamente as relações da sociedade, quer do ponto de vista da sociedade, quer do ponto de vista das pessoas, traduzindo agora por miúdos, no Direito de erguer a minha voz contra a nova voz feminina que anuncia as chegadas e as partidas das respectivas séries de carruagens puxadas por uma locomotiva sobre carris, ou seja dos comboios.
Poderia cair na hipocrisia ao dizer que tal nova voz feminina não me incomoda de forma alguma, mas a verdade é que não só me incomoda como também fere o meu tímpano,mais concretamente o esquerdo que para mal de todos nós, é ferozmente atacado em época de férias e após uns mergulhos que eu considero valentes por otites, cujos especialistas na matéria que têm aquele nome comprido que assombra a todos no momento da sua pronunciação, estou a falar dos otorrinolaringologistas dizem por lástima minha, ser de foro agudo.
Para além do meu ouvido esquerdo existe outro factor agravante, eu acordo sempre mal disposta. Obviamente que não culpo Vossas Senhorias por ter nascido com este dom, mas imputo-vos a responsabilidade por o agravarem. Vejamos, uma pessoa acorda cedo, constata que não tem na prateleira os seus cereais preferidos, ao sair de casa esquece-se das chaves, o carro não pega, tem que ir a pé até à estação e quando finalmente chega a esta depara-se com uma nova voz que mais se assemelha com alguém que está a ser abruptamente zurzido à força o que impossibilita um falar fluente na anunciação da respectiva chegada do comboio. Uma pessoa habitua-se a uma voz diariamente durante anos e de um dia para o outro sem uma única explicação ou aviso prévio essa voz deixa de existir. Fiquei e continuo transtornada.

Por isso apelo a rectificação da voz e como tal à sua respectiva alteração.

Com os melhores cumprimentos,

Passageira desde 2000 e picos.